É frequente que pacientes busquem atendimento de emergência devido a complicações relacionadas à colecistolitíase. O risco de complicações aumenta de 0,1% a 0,3% por ano após o primeiro episódio de dor.
Ademais, cálculos de menor tamanho ampliam o risco de pancreatite e icterícia devido à sua maior facilidade de migração.
Entre as principais complicações estão a colecistite aguda, coledocolitíase, colangite e pancreatite biliar.
Colecistite aguda
A colecistite aguda representa a complicação mais comum. Ela se manifesta quando há uma obstrução persistente do ducto cístico por um cálculo impactado, levando à translocação bacteriana, colonização e subsequente inflamação.
Os sintomas incluem dor abdominal com duração superior a 6 horas, náuseas, vômitos e febre. O exame físico pode revelar o sinal de Murphy positivo.
Os exames laboratoriais frequentemente indicam leucocitose e elevação de PCR. Podem ocorrer alterações nos níveis de FA, GGT, TGO, TGP e bilirrubina.
A ultrassonografia abdominal ou hepática e a colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM) mostram um cálculo impactado no infundíbulo que não se move com mudanças de posição, vesícula biliar com espessamento da parede (maior que 6 mm) e presença de lama biliar.
O tratamento geralmente envolve hidratação, controle da dor e náuseas com antieméticos, bem como o uso de antibióticos como amoxicilina e clavulanato ou ceftriaxona/ciprofloxacino e metronidazol.
A colecistectomia videolaparoscópica precoce, preferencialmente dentro das primeiras 72 horas, é o tratamento definitivo recomendado.
Pancreatite biliar
A colelitíase também pode resultar em pancreatite aguda.
Quando um cálculo fica impactado no esfíncter de Oddi, pode causar uma obstrução que interrompe o fluxo pancreático.
Coledocolitíase
Como mencionado anteriormente, a coledocolitíase ocorre quando os cálculos biliares se alojam no ducto hepático comum ou ducto colédoco.
Esta condição afeta cerca de 10% dos pacientes com colecistolitíase e pode levar a uma obstrução das vias biliares, resultando em colestase, icterícia e aumentando o risco de infecção.
A vesícula biliar torna-se indetectável ao toque (esclerótica). É comum observar um aumento nos níveis de fosfatase alcalina (FA) e gama-glutamiltransferase (GGT), associado a elevações nos níveis de transaminases (TGO, TGP) e bilirrubinas.
Embora a ultrassonografia abdominal não seja capaz de visualizar diretamente o colédoco, pode revelar dilatação do ducto hepático comum, indicando uma possível obstrução. A colangiopancreatografia por ressonância magnética (CRNM) é considerada o método diagnóstico de eleição, permitindo a visualização direta de dilatação e obstrução.
O tratamento geralmente envolve a realização de colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE).
Colangite
A colangite é uma complicação que pode surgir devido à coledocolitíase, onde um cálculo impactado no colédoco pode propiciar infecções devido à ascensão bacteriana.
Esta infecção do sistema biliar é conhecida como colangite e é causada pela estagnação da bile, representando uma condição grave com potencial fatal.
Os sintomas típicos incluem febre, dor abdominal e icterícia, formando a Tríade de Charcot. Em casos graves, esses sintomas podem ser acompanhados por hipotensão e alterações no nível de consciência, configurando a pêntade de Reynolds, que é um sinal de sepse.
A ultrassonografia abdominal pode revelar a presença de cálculos na vesícula biliar, além de dilatação do colédoco e das vias biliares intra-hepáticas.
O tratamento imediato visa à estabilização do paciente, incluindo hidratação, controle da dor e medidas de suporte. Antibióticos como ampicilina com sulbactam ou ceftriaxona/ciprofloxacino com metronidazol são utilizados para tratar a infecção.
Conclusão
A litíase biliar é uma condição comum que pode causar dor intensa e complicações graves.
Os sintomas frequentemente incluem dor abdominal aguda, náuseas e vômitos.
O tratamento geralmente envolve a remoção cirúrgica da vesícula biliar por meio de colecistectomia videolaparoscópica, com o uso de antibióticos e outras medidas para tratar infecções e complicações associadas.